domingo, 13 de maio de 2012

Papo fúnebre

Tem um assunto que a gente não gosta de falar: a morte. Mas irei tratar do tema de uma forma diferente, sobretudo, pelo que observo em Uibaí. Apesar de ser um momento dolorido, a partida de um ente querido, um amigo, um vizinho, um conterrâneo, o próximo, da gente mesmo, esse fato representa um negócio para os planos funerários e funerárias, que só sobrevivem em função desses momentos.
A sentinela, ou seja, o momento em que se fica próximo ao corpo, antes do sepultamento, ainda mantém características de antigamente: um fogo na porta, uma roda de homens conversando sobre a seca, a lavoura e, de vez em quando sobre alguma anedota do morto e tomando cachaça. Lá dentro, as mulheres debulham o ofício para encomendar o defunto a ser recebido no céu.
Pegar na alça do caixão já representou um ato de amizade, de reconhecimento da vida vivida. Como os cemitérios ficam, em regra, fora das ruas, levar um caixão pesado por quilômetros demanda a ajuda de muitas pessoas.
Nesse longo caminho, vários benditos eram entoados: “com minha mãe estarei, na santa glória um dia...”, e também: “...segura, na mão de Deus, segura, na mão de Deus, pois ela, ela te sustentará...”, além de outras orações.
Os planos funerários, por sua vez, enxergaram esse mercado como algo promissor. Eles oferecem um plano a preços módicos, onde as pessoas pagam um pequeno valor, garantindo, no futuro, que seus parentes não terão que correr atrás da prefeitura para receberem um caixão para um defunto seu. O próprio plano se encarrega de fornecer o caixão,  dar banho no morto, vesti-lo, levar à igreja( ou outro local para velório), e preparar o chá na sentinela.
O carro fúnebre é também um carro de som. Eles passam diversas músicas. Nesse ponto, surge uma preocupação cultural, tendo em vista que os benditos serão esquecidos, além das orações que eram feitas durante o percurso. Às vezes, o som alto, com músicas emocionante botam o povo para chorar, nem sempre pelo morto, mas lembrando de um dos seus que já se foram, que está para ir, ou que tem medo que vá.
O próximo passo desses planos será oferecer as pessoas para chorar, para rezar as rezas que eles fizeram as comunidades esquecer, uma vez que foram substituídas pelo carro de som.
Hoje, é questão de status ter o seu defunto assistido por um plano funerário. Sepultar da forma antiga, segurando na alça do caixão, com orações, já é uma coisa rara.


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