Tem um assunto que a gente não gosta de falar: a morte. Mas
irei tratar do tema de uma forma diferente, sobretudo, pelo que observo em
Uibaí. Apesar de ser um momento dolorido, a partida de um ente querido, um
amigo, um vizinho, um conterrâneo, o próximo, da gente mesmo, esse fato representa
um negócio para os planos funerários e funerárias, que só sobrevivem em função
desses momentos.
A sentinela, ou seja, o momento em que se fica próximo ao
corpo, antes do sepultamento, ainda mantém características de antigamente: um
fogo na porta, uma roda de homens conversando sobre a seca, a lavoura e, de vez
em quando sobre alguma anedota do morto e tomando cachaça. Lá dentro, as
mulheres debulham o ofício para encomendar o defunto a ser recebido no céu.
Pegar na alça do caixão já representou um ato de amizade, de
reconhecimento da vida vivida. Como os cemitérios ficam, em regra, fora das
ruas, levar um caixão pesado por quilômetros demanda a ajuda de muitas pessoas.
Nesse longo caminho, vários benditos eram entoados: “com
minha mãe estarei, na santa glória um dia...”, e também: “...segura, na mão de
Deus, segura, na mão de Deus, pois ela, ela te sustentará...”, além de outras
orações.
Os planos funerários, por sua vez, enxergaram esse mercado
como algo promissor. Eles oferecem um plano a preços módicos, onde as pessoas
pagam um pequeno valor, garantindo, no futuro, que seus parentes não terão que
correr atrás da prefeitura para receberem um caixão para um defunto seu. O
próprio plano se encarrega de fornecer o caixão, dar banho no morto, vesti-lo, levar à igreja(
ou outro local para velório), e preparar o chá na sentinela.
O carro fúnebre é também um carro de som. Eles passam
diversas músicas. Nesse ponto, surge uma preocupação cultural, tendo em vista
que os benditos serão esquecidos, além das orações que eram feitas durante o
percurso. Às vezes, o som alto, com músicas emocionante botam o povo para
chorar, nem sempre pelo morto, mas lembrando de um dos seus que já se foram,
que está para ir, ou que tem medo que vá.
O próximo passo desses planos será oferecer as pessoas para
chorar, para rezar as rezas que eles fizeram as comunidades esquecer, uma vez
que foram substituídas pelo carro de som.
Hoje, é questão de status ter o seu defunto assistido por um
plano funerário. Sepultar da forma antiga, segurando na alça do caixão, com
orações, já é uma coisa rara.
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